Lusa e os caminhos que se estreitam

Eu entrara na idade adulta sem grandes hesitações nem questionamentos. Trabalhar, ter um companheiro, organizar a minha vida pareciam caminhos naturais que se foram abrindo e que fui seguindo, com poucas vicissitudes. Os trabalhos em que investi surgiram-me, mais do que eu os procurei. De certa forma os amores também, uns foram-se embora, outros vieram. Escolher, escolher, só tinha a sensação de o ter feito relativamente ao meu filho, tê-lo fora um desejo e uma decisão minha. O resto parecia que me acontecera e eu aceitara. E aos 30 anos, colocada perante a imposição de optar face a dois caminhos incompatíveis, percebi esta evidência terrível da idade adulta que parece simples mas não é, que eu já tinha identificado como fazendo parte do problema do Daniel, mas sem o sentir verdadeiramente na pele, como agora tinha acontecido: na vida só podemos seguir uma estrada. Ter uma profissão é renunciar a outras possibilidades onde se calhar poderíamos ser tão bons como naquela em que investimos. Escolher um marido significa renunciar a todos os outros homens que poderíamos amar. Como é que nos preparamos para isso?